Quando você se foi
O céu chorou chuva
A pele sangrou dor
A solidão se isolou
E a menina que sorria,
Cansou
Quando você se foi
A flor murchou
O espinho feriu
E cada ferida fechada
Uma por uma, se abriu
Quando você se foi
O violão desafinou
O samba acabou
E com tanta nota triste,
Cada poeta desabou
Quando você se foi
Já não tinha mais amor
Fiquei só, sozinha
E de repente sua dor
Se transformou em minha
Como um guarda-chuva no mar
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Mar tem lua em câncer. Astros a iluminam: capricórnio acende seu sol, e touro, seu ascendente. Tem como companhia sua solidão, o oceano pessoal no qual a moça nada. Seu coração se inunda no caos das emoções, e artérias vermelhas seguem labirintos para irrigar seu corpo. Seus lábios, também cor de sangue, murmuram canções mortas, e a pele amarela de suas pernas faz as vivas dançarem. Mar cambaleia em suas próprias ideias, sempre com peso nos ombros, fumaça nos pulmões e cicatrizes no corpo. Mar anda por aí cheirando a incenso, tabaco e suor. Mar vem, Mar vai, Mar-ia.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Me admirava ver as outras aves, sempre em bandos. Tentei me juntar a vários grupos, mas minhas asas me pareciam pesadas ou leves demais. Minhas penas, escondidas pelo sebo de tanto voar, não eram iguais as das outras. Podia voar, dormir e até caçar como eles. Mas nunca me parecia suficiente. Vivi com pombas, calopsitas e até falcões. Mas suas caças, tão instintivas, não acendiam meu desejo. Até senti prazer com algumas carnes que conquistava, mas sabia que não era esse tipo de pássaro. Não sabia o que era, aliás. Me via como uma andorinha fora do ninho. Tentando alçar vôo. Como uma loba solitária, filha dos ventos. Até que fui presa em cativeiro. Lá não haviam outros pios para me atentar ao predador. Não havia sequer predador. Só eu. E enjaulada nas paredes frias de vidro, vi meu reflexo. Não era nada como outras espécies. Tampouco como me imaginava. Estava cega quando me via nas águas dos rios? Estava alucinando naquele claustro? Seria aquela forte criatura uma amiga imaginária? De tantas perguntas, enlouqueci. A falta de grãos e carcaças me tornou frágil. Já não suportava mais a dor da minha existência, ínfima e vazia, naquela caixa imunda. Até que um dia dormi. Ou como diriam os estranhos humanos: havia morrido. Mas ainda estava lá. O pó, que antes materializava meu corpo, agora estava empilhado no canto em que havia deitado, quando ainda estava dentro de mim. E enquanto fui pó, voei como nunca antes. Fluida e visceral, vi os mares, a luz, as flores, os risos e os amores. Quando achei que já havia visto de tudo, algo me chamou de volta a caixa. Meus restos pulsavam por mim, e uma agonia tomou conta da minha energia liberta. Não sei se como aura, espírito, alma ou simplesmente ser, mas sei que voltei ao lugar onde minha vida terrena havia terminado. E algo me chamou a atenção. A caixa já não estava parada. A poeira que outrora me formava movia-se como fogo, flamejava ao som do canto da liberdade. De repente voltei a vida. E então tudo me pareceu muito simples. Não sou pássaro, sou fênix. A caixa sumiu e fui. Fui chama, fui intensa, fui fluida e fui vida.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Mulheres,
Com seus truques
Me atrapam
Me torcem as tripas
Com suas trapaças
E me fazem trocar meu eu
Por um troço, um trapo
Um único e singelo traço
Mulheres,
Que com meu corpo transam
E a meu coração,
Trucidam
Mas mulher também sou
Então, através de tal sentimento
Trago comigo iguais amantes
Atrizes e atrozes
As amo com dor, mas sem lamento
Com seus truques
Me atrapam
Me torcem as tripas
Com suas trapaças
E me fazem trocar meu eu
Por um troço, um trapo
Um único e singelo traço
Mulheres,
Que com meu corpo transam
E a meu coração,
Trucidam
Mas mulher também sou
Então, através de tal sentimento
Trago comigo iguais amantes
Atrizes e atrozes
As amo com dor, mas sem lamento
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